O ginásio do SESI em Porto Velho – foi mais uma vez espaço de “deposito” de trabalhadores
– migrantes que fugiram do “fogo” do canteiro Jirau. A cena
não é muito diferente do que se passou em março do ano passado: milhares de
trabalhadores do Maranhão, Pará, Rio Grande do Norte, Piauí, São Paulo... saem
correndo do canteiro de obra levando consigo seus poucos pertences e outros,
perdendo parte do que estavam levando pelo caminho, pois tiveram que fazer a pé
até o portão principal do canteiro, mais precisamente três quilômetros, para
tomar um ônibus que os conduziria até a cidade de Porto Velho.
O grande questionamento que se
escuta de todos os lados é: porque eles fizeram isso? Porque queimaram 36
alojamentos? Respostas, com certeza,
haverá várias, dependendo do lado em que eu me coloco.
Para alguns, assim como para o
ministro Gilberto Carvalho, que afirmou que foi um ato de vandalismo, outros
que foi um ato isolado de um pequeno grupo que não queria voltar ao
trabalho..., o que eu discordo pois
acredito que o migrante- trabalhador que sai de sua terra deixando sua família, para garantir o pão de cada dia , não é
vândalo, ou será que trabalhador agora é sinônimo de vândalo? Pergunto eu, não será pela
precarização do trabalho nas Usinas do rio Madeira?
Acompanhando hoje e o ano passado esta
realidade de perto vi homens de todas as idades sem um horizonte, olhares
perdidos, sentimento de insegurança e às vezes até medo do desconhecido. Vi
seres humanos sentados em um cimento duro de um ginásio de esporte ou sentados
em suas malas enquanto aguardavam um encaminhamento ou resposta. Escutei várias
vozes expressando descontentamento.
Há 26 dias, os operários do
canteiro de obra da Jirau estava em greve, reivindicando reajuste salarial de
30 %. Em assembleia, realizada no dia 02 de abril, não entrando em acordo,
mesmo com o Sindicato tentando manipular a votação pelo fim a greve, segundo
relataram alguns trabalhadores. Isto porque a proposta da empresa era de que eles
retornassem ao trabalho, a empresa pagaria do dia 6 até o dia 10 de
abril os 8 dias trabalhados do mês de março e
dos dias 11 a 14 de abril os restantes de dias para aqueles que voltasse imediatamente
ao trabalho. E concederia um aumento de 5%. Segundo nos contaram alguns
trabalhadores, esta proposta da empresa, não era possível de aceitar. Só que
após o fim da tumultuada assembleia alguns trabalhadores foram obrigados a
trabalharem escoltados por policias da força nacional. Relatou-nos ainda um trabalhador que a
policia tem responsabilidade pelo que aconteceu, por agir de forma violenta
dentro do canteiro. Os trabalhadores nos falaram dizendo, que se a empresa cedesse e pagasse o
reajuste de 10% e abolisse as faltas, eles estavam decidido a retornarem ao
trabalho.
Escutamos companheiros que nos
contaram que houve mortes ali. Falam de 4, 3, 2, mortes. Os números podem
variar, mas o fato é que vidas foram ceifadas – vidas de trabalhadores migrantes.
Vidas sacrificadas no “altar da Ganância”.
É o grande capital, com o
agronegócio e cada vez com mais força o hidronegócio, avança sobre campo e
cidades. Aqui na bela e rica região amazônica não é diferente. Mas, caminhamos porque sonhamos com a vida respeitada, com a terra e o
pão partilhados, com trabalho para todos, com nossas crianças na escola, com a
saúde, moradia e lazer.
Temos que nos fazer presentes em todos os lugares aonde a luta pelos
direitos fundamentais dos trabalhadores acontece e continuar firmes na
resistência histórica da classe trabalhadora. Dessa forma estaremos anunciando
na caminhada, testemunhos de esperança e sendo verdadeiros discípulos e
discípulas de Jesus de Nazaré. A violência contra o trabalhador nega a ordem
querida por Deus.
No hay comentarios:
Publicar un comentario